domingo, 8 de março de 2015

Querido filho da puta

Um amigo comentou comigo sobre Robert Johnson, e eu não pude deixar de sentir meu pensamento voando direto pra você.
Me lembrei do dia em que fumamos um cigarro na cozinha do seu trabalho, tragando tão rápido que a garganta ardia.
De você levantando bêbado da mesa do bar pra ir embora sozinho, e eu a noite inteira ligando pra saber se estava tudo bem.
De chorar no seu ombro pela Betina e pelo Bernardo, pra no fim, você me dizer que eu deveria ficar com a Anna.
Você era como o sol, entrando direto pela janela em uma manhã de domingo, batendo na nossa cara e chamando pra ir lá fora.
E eu ainda consigo ouvir o som da sua gaita. O som do seu violão. O som da sua risada ecoando pela Avenida Atlântica.
Consigo lembrar do meu coração apertado, sentada na sala do cinema ano retrasado assistindo “Somos tão jovens” e pensando que tipo de vilão teria repetido em nós a história da tela.
Tenho problemas em ouvir “Ainda é Cedo”. Renato, será que já não foi o bastante com “Vento no litoral”? 
Andei milhas tentando disfarçar o choro. Tentando me convencer que você era só mais um filho da puta, mas a merda é que as canções da Janis Joplin vão continuar tocando só pra me lembrar de você.
E a vida vai continuar sendo um blues choroso que a gente não consegue parar de ouvir.
Mas fora isso… O fato, João, é que eu queria que você nunca esquecesse… Que eu nunca te esqueci.