terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Quando eu peguei fogo junto com o cabelo dela.

Trabalhávamos no Snake Bar. Isabel como door e eu como barman. O clima andava quente na última semana, por conta dos olhares e risinhos provocantes que ela me lançava todas as noites, como se quisesse me lembrar a todo tempo que tínhamos um acordo tácito de pertencer um ao outro.

O fato é que eu não estava mais em meu juízo perfeito. Qualquer passo que ela desse, com suas botas de vinil preto e salto alto perto de mim, me fazia imaginar mil coisas. Fazia parte do jogo dela, e eu não podia sair agora. Mas não quis apressar as coisas. No fundo, tudo aquilo era instigante. Por volta das 4 da manhã, eu estava arrumando as garrafas quando ela se aproximou de repente:

- E aí, Henrique? Vamos comer alguma coisa?

Quando me virei, ela estava encostada com os cotovelos apoiados no balcão, olhos profundos, cabelos ruivos quase naturais, agora soltos, caindo sobre os ombros e o vestido vermelho. Era como se tudo tivesse sido perfeitamente colocado ali pra me enlouquecer. Fechamos o bar, levamos uma garrafa de vinho e caminhamos até o Pizza Express. Pedimos uma gigante de calabresa e partimos para o apartamento dela, que ficava próximo dali.

Foi só o tempo de trancar a porta, largar a pizza em cima da mesa e me deixar ser puxado até o quarto. Ela me empurrou e eu caí sentado na cama. Ela habilmente arrancou o vestido e, calçando apenas as benditas botas até as coxas, ordenou:

- Me fode.

Sempre me considerei um cara experiente em relação a sexo, mas aquela mulher era diferente de qualquer outra. Olhos famintos, lábios úmidos, a pele pegava fogo. Isabel não tinha pudores nem limites. Enquanto enlaçava meu corpo com as pernas, segurei seu cabelo na parte da nuca, sentindo-a cravar as unhas em minhas costas, e os dentes em meu pescoço.

Confesso que ao longo da vida, me acostumei a dominar, a ser servido. Mas quando os dedos finos estalaram em meu rosto, e aquele riso diabólico passou pelo rosto dela, eu me rendi. Iria onde quer que ela me levasse, não tinha mais volta.


O sol invadiu o apartamento, se enfiando naqueles cabelos ruivos. Enquanto estava sentada na cama encostada na cabeceira com os seios à mostra, ela enrolava calmamente um baseado. Nunca fui muito de fumar, mas acabei fumando. Relaxamos, bebemos e devoramos a pizza. Teoricamente era o fim do jogo pra ela, mas e pra mim?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

SD-25

Pinto o cabelo, o rosto, e a alma
Me refaço toda manhã,
Escrevo poemas infinitos no asfalto,
Dispenso pontos e vírgulas,
Assumindo riscos que podem me matar,
Me enlouquecer,
Às vezes o mundo parece
uma gaiola gigante,
Ou talvez seja esse corpo que me prenda,
Ou essa mente.


Ao Sul

Do outro lado do mar,
Do outro lado da cidade,
Do outro lado da ponte,
Os pássaros voam para o Sul,
Os ursos hibernam
E eu mantenho a poeira
embaixo do tapete
Você ainda tem superpoderes, afinal
Porque a porta continua aberta.