terça-feira, 21 de julho de 2015

Mar de Rosas

A vida bate,
As pessoas batem,
O vento bate
no rosto,
e é o único de quem
vale a pena apanhar.

Você entrega flores,
Gracejos,
recebe espinhos
Mas os pássaros
Vão continuar cantando
E nós vamos continuar
gastando dinheiro
com álcool,
cigarros,
e ácido
Ao invés de tentar nos curar.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Fome

Trem lotado
6:13h
Sigo de pé
Uma mulher prega
Outros engrossam o coro
de améns
Enquanto eu ouço
pelos fones de ouvido
Uma canção sobre
Nietzsche e Che
Todos ali querem milagres
Mas ninguém quer
correr atrás deles
Tenho fé
Mas naquele momento
A música é minha prece
O cinza da minhoca de metal
Se confunde
Com o verde acidental
Lá de fora
Somos tão limitados
Lutando contra o sono
E preguiça de nossa crença
Eu tenho fé
Mas naquele momento
A música é meu ritual
Lembro do garoto
Que me pediu uma moeda
ontem em Botafogo
Não somos pensadores
Tampouco guerrilheiros
Apenas famintos.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Elemento Fogo

Você me cedeu o isqueiro,
Mas eu queria o seu braço,
Puxar você pra perto
E dizer todas as coisas
Que eu guardei
Na minha caixa de Pandora,
Manter seu interesse
Enquanto eu fumava meu cigarro,
Mas você estava afundado
No seu uísque
E nos olhos dela,
Eu fugi da fogueira,
Me salvei da inquisição
Para me queimar por você,
Mas agora que eu olhei bem,
Você cedeu o isqueiro pra ela.

domingo, 8 de março de 2015

Querido filho da puta

Um amigo comentou comigo sobre Robert Johnson, e eu não pude deixar de sentir meu pensamento voando direto pra você.
Me lembrei do dia em que fumamos um cigarro na cozinha do seu trabalho, tragando tão rápido que a garganta ardia.
De você levantando bêbado da mesa do bar pra ir embora sozinho, e eu a noite inteira ligando pra saber se estava tudo bem.
De chorar no seu ombro pela Betina e pelo Bernardo, pra no fim, você me dizer que eu deveria ficar com a Anna.
Você era como o sol, entrando direto pela janela em uma manhã de domingo, batendo na nossa cara e chamando pra ir lá fora.
E eu ainda consigo ouvir o som da sua gaita. O som do seu violão. O som da sua risada ecoando pela Avenida Atlântica.
Consigo lembrar do meu coração apertado, sentada na sala do cinema ano retrasado assistindo “Somos tão jovens” e pensando que tipo de vilão teria repetido em nós a história da tela.
Tenho problemas em ouvir “Ainda é Cedo”. Renato, será que já não foi o bastante com “Vento no litoral”? 
Andei milhas tentando disfarçar o choro. Tentando me convencer que você era só mais um filho da puta, mas a merda é que as canções da Janis Joplin vão continuar tocando só pra me lembrar de você.
E a vida vai continuar sendo um blues choroso que a gente não consegue parar de ouvir.
Mas fora isso… O fato, João, é que eu queria que você nunca esquecesse… Que eu nunca te esqueci.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Quando eu peguei fogo junto com o cabelo dela.

Trabalhávamos no Snake Bar. Isabel como door e eu como barman. O clima andava quente na última semana, por conta dos olhares e risinhos provocantes que ela me lançava todas as noites, como se quisesse me lembrar a todo tempo que tínhamos um acordo tácito de pertencer um ao outro.

O fato é que eu não estava mais em meu juízo perfeito. Qualquer passo que ela desse, com suas botas de vinil preto e salto alto perto de mim, me fazia imaginar mil coisas. Fazia parte do jogo dela, e eu não podia sair agora. Mas não quis apressar as coisas. No fundo, tudo aquilo era instigante. Por volta das 4 da manhã, eu estava arrumando as garrafas quando ela se aproximou de repente:

- E aí, Henrique? Vamos comer alguma coisa?

Quando me virei, ela estava encostada com os cotovelos apoiados no balcão, olhos profundos, cabelos ruivos quase naturais, agora soltos, caindo sobre os ombros e o vestido vermelho. Era como se tudo tivesse sido perfeitamente colocado ali pra me enlouquecer. Fechamos o bar, levamos uma garrafa de vinho e caminhamos até o Pizza Express. Pedimos uma gigante de calabresa e partimos para o apartamento dela, que ficava próximo dali.

Foi só o tempo de trancar a porta, largar a pizza em cima da mesa e me deixar ser puxado até o quarto. Ela me empurrou e eu caí sentado na cama. Ela habilmente arrancou o vestido e, calçando apenas as benditas botas até as coxas, ordenou:

- Me fode.

Sempre me considerei um cara experiente em relação a sexo, mas aquela mulher era diferente de qualquer outra. Olhos famintos, lábios úmidos, a pele pegava fogo. Isabel não tinha pudores nem limites. Enquanto enlaçava meu corpo com as pernas, segurei seu cabelo na parte da nuca, sentindo-a cravar as unhas em minhas costas, e os dentes em meu pescoço.

Confesso que ao longo da vida, me acostumei a dominar, a ser servido. Mas quando os dedos finos estalaram em meu rosto, e aquele riso diabólico passou pelo rosto dela, eu me rendi. Iria onde quer que ela me levasse, não tinha mais volta.


O sol invadiu o apartamento, se enfiando naqueles cabelos ruivos. Enquanto estava sentada na cama encostada na cabeceira com os seios à mostra, ela enrolava calmamente um baseado. Nunca fui muito de fumar, mas acabei fumando. Relaxamos, bebemos e devoramos a pizza. Teoricamente era o fim do jogo pra ela, mas e pra mim?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

SD-25

Pinto o cabelo, o rosto, e a alma
Me refaço toda manhã,
Escrevo poemas infinitos no asfalto,
Dispenso pontos e vírgulas,
Assumindo riscos que podem me matar,
Me enlouquecer,
Às vezes o mundo parece
uma gaiola gigante,
Ou talvez seja esse corpo que me prenda,
Ou essa mente.


Ao Sul

Do outro lado do mar,
Do outro lado da cidade,
Do outro lado da ponte,
Os pássaros voam para o Sul,
Os ursos hibernam
E eu mantenho a poeira
embaixo do tapete
Você ainda tem superpoderes, afinal
Porque a porta continua aberta.